Trabalhar para quê? Trabalhamos para quê? Casa própria, carro novo, viagem, bens de consumo diversos. Status, segurança, bem-estar, prazer. Por qual motivo trabalhamos?
Na Grécia Antiga, o trabalho era considerado um mal necessário, reservado apenas aos escravos e aos pobres. Os hebreus, por exemplo, viam o trabalho como uma dolorosa necessidade, associando-o a uma punição resultante do pecado original. Mais tarde, com a influência de doutrinas religiosas, as atitudes negativas com relação ao trabalho foram mudando gradualmente. Na época do iluminismo, o trabalho foi transformado em símbolo e fonte de propriedade e produtividade, de dignidade humana, de autonomia e liberdade, progresso e desenvolvimento.
A Reforma Protestante foi um período de grande glorificação do trabalho. Lutero pregava que o trabalho árduo e a devoção eram a melhor maneira de servir a Deus, enquanto Calvino exaltava o trabalho como um chamado de Deus, uma parte da salvação dos pecadores. Os ideais difundidos por Lutero e Calvino exerceram forte influência no século XIX, sendo denominados de Ética Protestante.
Numa abordagem mais contemporânea, para o sociólogo brasileiro Ricardo Antunes, o trabalho está no centro do processo de humanização do homem, é um processo que simultaneamente altera a natureza e autotransforma o próprio ser que trabalha. Desta maneira, trabalhar não envolve apenas o campo da sobrevivência, mas também independência, satisfação, motivação e autorrealização.
Em outras palavras, a relevância que o significado do trabalho possui para as pessoas, cada vez mais está relacionada à busca de sentido ou de propósito, o que, certamente, difere de pessoa para pessoa e pode sofrer alterações no decorrer da vida.
Atualmente, os jovens que têm o privilégio de ingressar numa faculdade, o fazem mais cedo que no passado. Tomam, portanto, decisões mais cedo, a respeito de qual carreira vão seguir. Felizmente, nos dias de hoje, nem sempre o filho do médico, do advogado ou do engenheiro, necessariamente tem de seguir esta mesma carreira. Embora ainda exista alguma pressão, nem sempre ela tem se mostrado suficiente.
O leque de opções e de caminhos a serem seguidos não param de crescer. Novas profissões nascem, morrem ou sofrem metamorfoses, impulsionadas pelos incessantes avanços tecnológicos, que tanto impacto têm trazido à nossa vida.
A escolha de uma carreira profissional, qualquer que seja ela, já não sofre tanta influência parental e nem sempre é entendida como imutável ou inflexível para sempre. Em outras palavras, se a carreira que foi abraçada não atender suficientemente aos anseios do profissional, ela pode ser, depois de experimentada, trocada. Se, por um lado, é sabido das consequências de se fazer isso com frequência, por outro lado, este movimento de troca já não é mais tão demonizado quanto no passado.
Cabe lembrar que a palavra “carreira” tem sua origem no latim medieval “carraria”, que significa “estrada rústica para veículos”. Uma estrada pode nos levar a lugares diferentes, podemos parar, mudar o curso e até escolher um lugar diferente para chegar, mas esta estrada somente será útil se soubermos até onde queremos chegar, ou ao menos para que direção queremos ir.
A resposta, que nem sempre é clara e objetiva, não estará nas placas dispostas pela estrada, nem na direção do vento, no local onde o sol nasce ou se põe. Estará naquele que transita pela estrada e nos sonhos que leva dentro de sua mente e de seu coração.
Miriam Rodrigues é doutora em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas. Atua como docente na área de Gestão de Pessoas e Comportamento Organizacional e Coordena os Cursos de Graduação Tecnológicos EaD do Centro de Ciências Sociais e Aplicadas da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Fonte: https://www.mundorh.com.br/carreira-e-proposito/