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Carreira do jovem: como conquistar o 1º emprego na pandemia?

 

Claudia Gasparini

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A pandemia impôs desafios para profissionais de todas as idades e níveis de experiência, mas recém-formados e estudantes têm sido especialmente afetados.

Um em cada cinco jovens parou de trabalhar por causa da Covid-19 no mundo, segundo um estudo da Organização Internacional do Trabalho (OIT). Entre os que se mantiveram empregados, 23% tiveram a jornada de trabalho reduzida.

No Brasil, o cenário é ainda mais complicado. No primeiro trimestre de 2020, o desemprego na população com idade entre 18 e 24 anos subiu de 23,8% para 27,1%, o que representa mais do que o dobro da média nacional, segundo o IBGE.

Stefano Scarpetta, chefe da divisão de emprego da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), disse em entrevista à BBC Brasil que existe o risco de se criar uma “geração perdida” de jovens profissionais se governos e empresas não reagirem ao problema desde já.

O desafio é enorme. Ainda assim, todos os consultores e especialistas em carreira que consultei ao longo das últimas semanas concordam em um ponto: apesar de tudo, existem oportunidades de trabalho, estudo e crescimento profissional para quem está começando a carreira em tempos tão difíceis. 

Mas, antes de falar das soluções, é importante entender mais a fundo quais são os principais obstáculos à frente. Vamos a eles.

 O que você precisará enfrentar?

O diagnóstico de Luís Abdalla, consultor e mentor especializado em carreira dos jovens, começa pela seguinte constatação: o “novo normal” criado pelo novo coronavírus está levando os recrutadores a priorizar candidatos mais acostumados a trabalhar com autonomia.

“Quem está em início de carreira já tem um obstáculo natural, que é a falta de experiência em uma determinada área”, diz ele. Isso se torna uma desvantagem ainda maior para os jovens na pandemia. “Com o trabalho remoto, as empresas tendem a buscar profissionais mais experientes, independentes, prontos para ‘sair jogando’ assim que forem contratados”, explica Luís.

Outro obstáculo é o que o consultor chama de “efeito cascata”. Em meio à crise, muitos profissionais que foram demitidos de cargos de coordenação ou gerência têm aceitado vagas com nível mais baixo de senioridade — e até salários menores — para permanecerem no mercado.

Esse fenômeno acerta em cheio a empregabilidade de quem está se formando. Isso porque o jovem passa a disputar vagas com profissionais mais velhos e com maior grau de experiência profissional.

As incertezas trazidas pela pandemia também fizeram muitas empresas adiarem ou paralisarem seus programas de recrutamento de jovens, sobretudo entre março e abril, lembra Tiago Mavichian, fundador e CEO da Companhia de Estágios.

“O volume de vagas, que vinha aumentando desde 2019, despencou com a pandemia”, afirma. O número de oportunidades oferecidas pela Companhia de Estágios, por exemplo, caiu 34,5% no primeiro semestre de 2020, na comparação com o mesmo período do ano passado.

Agora as empresas estão começando a descongelar seus processos seletivos, mas muitos jovens ainda avaliam a possibilidade de adiar a sua formação em um ou dois anos, com medo de concluir a graduação sem nunca ter feito um estágio.

Não que o panorama estivesse tão favorável antes da pandemia. Sofia Esteves, presidente do conselho do Grupo Cia de Talentos, diz que a crise gerada pela Covid-19 apenas acentuou as dificuldades já vividas pelos universitários e recém-formados diante das instabilidades econômicas do país.

Mas é claro que há dificuldades adicionais agora. Se já não era fácil, conquistar o primeiro emprego se transformou em uma jornada ainda mais desafiadora em meio à quebradeira geral de empresas de diversos setores, cortes de investimentos, ondas de demissões e reestruturações de todo o tipo.

▶ Como lidar com esses desafios?

A primeira dica de Sofia é não se cobrar tanto. “Vivemos um momento inédito, então não dá para comparar a busca atual por estágio ou emprego com o cenário que víamos há uns poucos meses”, afirma ela.

Diminuir as expectativas, porém, não equivale a se resignar. Enquanto muitas empresas de fato reduziram ou congelaram as contratações, diversas outras ainda têm realizado processos seletivos. O importante, neste momento, é manter a tranquilidade e a atenção para captar as oportunidades na hora certa.

Para isso, é necessário ter foco e disposição para pesquisar vagas de forma organizada. “Liste as empresas e acesse o site e redes sociais delas constantemente para se informar sobre as oportunidades disponíveis”, recomenda a especialista.

Além dessa busca ativa, também é importante deixar claro para a sua rede que você está procurando estágio ou emprego. “Muitos jovens se sentem inseguros e tímidos para dizer que buscam uma oportunidade, mas é mais estratégico ser ‘cara de pau'”, diz Sofia. Expor os seus objetivos para amigos, colegas, professores e familiares, inclusive, também pode ajudar.

Segundo Tiago, o jovem também pode — e deve — aproveitar os desafios vividos na pandemia como oportunidade de crescimento profissional.

“A pergunta-chave das entrevistas de agora em diante será: ‘O que você fez durante a pandemia?'”, explica. “A sua resposta vai mostrar o seu grau de resiliência diante de situações difíceis, que surgem todos os dias no mundo do trabalho”.

A dica, portanto, é não ficar parado, já que isso certamente contará pontos a seu favor diante de qualquer recrutador.

Uma das principais formas de se manter em movimento na pandemia é buscar cursos, oficinas, palestras, leituras e outras fontes de capacitação. De aulas de idiomas a cursos de programação, não faltam ofertas para se qualificar de forma remota na quarentena — em muitos casos, gratuitamente.

Também vale usar o tempo em casa para refletir mais profundamente sobre a sua vocação e os rumos que você deseja trilhar.

“Busque entender quais são os grandes temas que empolgam e motivam você profissionalmente”, afirma Luís. “Pergunte a si mesmo se você se interessa mais pela área financeira ou por educação, por exemplo, se busca uma empresa do terceiro setor ou um negócio ligado à inovação. As alternativas são inúmeras e o importante é identificar as suas motivações para se capacitar”.

▶ Em quais competências mais vale investir?

Na busca pelo seu primeiro emprego na pandemia, é importante prestar uma dose extra de atenção às descrições das vagas — sobretudo no que diz respeito às habilidades técnicas.

Entre as “hard skills” mais solicitadas pelas empresas na crise, os especialistas com que conversei destacam análise de dados, metodologias ágeis e domínio de ferramentas como Power BI, Tableau, Excel, Trello e Zoom, além de conhecimentos em idiomas e noções de programação.

As competências comportamentais, também conhecidas como “soft skills”, também podem fazer muita diferença para conseguir uma vaga.

Segundo Sofia, as principais incluem flexibilidade, criatividade, comunicação assertiva, inteligência emocional e capacidade para resolver problemas complexos.

“Resiliência e habilidade para relacionamentos interpessoais são ainda mais importantes neste momento”,  acrescenta Tiago. “Além disso, é preciso ser capaz de se adaptar a mudanças ainda mais rapidamente, porque isso pode significar o crescimento ou o fim de um negócio”.

Para Luís, o jovem deve se concentrar em ampliar sua capacidade de atuar em diversos cenários, resolver problemas com a ajuda da tecnologia e internalizar a importância da qualificação contínua — em outras palavras, ser capaz de aprender constantemente.

▶ Com tanto estresse, como manter o foco no aprendizado?

Investir em qualificação se tornou ainda mais estratégico diante da crise, mas se debruçar sobre os livros ficou muito mais difícil com o isolamento social. Seja na graduação, seja na pós, os jovens se veem diante dos muitos desafios do ensino remoto, que vão desde um sinal de internet de baixa qualidade às dificuldades de adaptação ao modelo de aulas a distância — isso para não falar no acúmulo de estresse e ansiedade na quarentena.

Porém, apesar das óbvias limitações e dificuldades do processo, esse não é o momento para descuidar dos estudos.

“Tente criar um espaço organizado e silencioso, com equipamentos adequados, tudo que o que for necessário para manter o seu foco e a sua produtividade”, recomenda Luís. Outro ponto importante é criar hábitos que ajudem a conciliar as tarefas domésticas com o tempo para imersão e concentração nos estudos.

Na medida do possível, é preciso manter uma rotina de estudos parecida com a que você tinha no ensino presencial.

Fazer pausas, com momentos de lazer e autocuidado, também é importante. “A retenção do conteúdo é otimizada se você estiver tranquilo e feliz, então evite se pressionar a estudar muitas horas seguidas em um mesmo dia”, diz Sofia. Vale buscar ferramentas online de gestão de tarefas, mas também é importante passar algum tempo longe das telas.

Em tempo: ao longo de todo o processo, é essencial buscar o apoio de professores, colegas, amigos e familiares. Isso ajuda a lembrar que a jornada está apenas começando — e que você não está sozinho.

Uma rede forte de conexões é fundamental para iniciar sua carreira em tempos difíceis. Neste vídeo extraído de um curso do LinkedIn Learning, a professora Dorie Clark, da Duke University, mostra como se aproximar de pessoas-chave que podem abrir portas para você neste momento: https://www.linkedin.com/learning/networking-como-criar-uma-rede-de-contatos-profissionais/boas-vindas

 

Fonte: https://www.linkedin.com/pulse/carreira-do-jovem-como-conquistar-o-1%C2%BA-emprego-na-claudia-gasparini/

 

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