Claudia Gasparini
Procurar emprego pode ser uma jornada longa, extenuante e cheia de reviravoltas. Que tal uma bússola? Na newsletter “A Vaga É Sua”, você encontrará informações e dicas de recrutadores e especialistas para guiar o caminho até a sua próxima oportunidade. Para acompanhar a série, clique no botão “Assinar”, ali no topo, à direita. E não se esqueça de deixar seus comentários no fim do artigo!
Ao se preparar para uma entrevista de emprego, é natural passar a maior parte do tempo pensando nas respostas que você vai dar aos diversos questionamentos do recrutador. O que poucos candidatos fazem é planejar as perguntas que podem ser feitas ao longo da conversa.
Compreender que a entrevista não é um “interrogatório”, em que apenas um dos lados precisa ter todas as respostas na ponta da língua, é o primeiro passo para identificar as questões que você pode (e deve) levar ao recrutador.
Adotar essa postura tem pelo menos duas vantagens, dizem especialistas ouvidos pela série “A Vaga É Sua”.
A primeira é óbvia: demonstrar disposição, energia e interesse genuíno pela vaga. “Um candidato curioso e disposto a descobrir mais sobre a posição e sobre a empresa transmite protagonismo”, diz Rafael Souto, CEO da consultoria Produtive. A imagem que fica é de alguém preocupado em acertar na escolha e aumentar suas chances de sucesso.
Para Amanda Adami, gerente de recrutamento da Robert Half, fazer perguntas também revela proatividade, já que o candidato mostra que se preocupou em estudar e fazer pesquisas sobre a empresa antes da entrevista. Esse diferencial pode ser decisivo. “Candidatos que fizeram boas perguntas são lembrados primeiro na hora de escolher quem será contratado”, afirma a especialista.
O segundo benefício é ter a chance de avaliar mais profundamente se aquele emprego faz mesmo sentido para sua trajetória. Trata-se, afinal, de uma via de mão dupla: a empresa busca conhecer a pessoa e avaliar se ela se encaixaria na posição disponível, enquanto o profissional tem a oportunidade de analisar se a vaga está alinhada com sua estratégia de carreira.
▶ Que tipo de pergunta vale a pena fazer?
Independentemente de qualquer recomendação de especialistas em recrutamento, é importante lembrar que autenticidade é fundamental. “Se você quer se diferenciar, não adianta pesquisar no Google as ‘melhores perguntas para fazer ao recrutador'”, diz Carolina. “Faça perguntas inteligentes e sempre genuínas”.
Manter a escuta aberta na entrevista e evitar um “roteiro” muito engessado também é importante. “O candidato deve perguntar quando tiver dúvidas”, afirma a headhunter. “Não é positivo fazer perguntas aleatórias só para perguntar”.
Dito isso, é interessante considerar alguns temas e objetivos na hora de preparar as questões que você levará para a entrevista.
A primeira tem a ver com o histórico da vaga e seus possíveis rumos no futuro, afirma Guilherme Filgueiras, gerente executivo da Michael Page e Page Personnel. Valem, por exemplo, as seguintes perguntas: “Esta vaga é nova ou é uma substituição? Se for uma substituição, o que aconteceu com o profissional que a ocupava antes? Qual é o plano de carreira para essa posição?”.
Segundo Guilherme, essas perguntas ajudam o candidato a entender o que não deu certo com o profissional anterior e, com isso, ter mais informações sobre o perfil da vaga. O questionamento sobre o futuro da posição também permite compreender as possibilidades de crescimento na empresa e verificar se elas têm a ver com o que você almeja para o futuro.
Ainda na linha das projeções, também vale questionar quais serão os próximos passos do processo caso o candidato seja aprovado. “Essa é uma forma de alinhar as suas expectativas quanto à evolução do processo”, diz o gerente da Michael Page.
Também vale a pena investigar as expectativas do empregador caso você seja contratado. De acordo com Carolina, é interessante perguntar se a empresa define resultados de médio e longo prazo para a equipe, se existe um processo de análise de desempenho e quais são as principais entregas esperadas do profissional que ocupar a vaga.
“Peça também para o recrutador explicar um pouco sobre as características que esperam do profissional e o momento da empresa, isto é, como vai a empresa e quais os desafios enfrentados pelo negócio”, orienta Rafael.
Outro tema básico para perguntas é o grau de aderência entre candidato e empresa em termos de cultura. Saber o perfil de profissional que costuma ter sucesso na empresa e as características comportamentais mais valorizadas pelos gestores é essencial. O especialista sugere duas questões nesse sentido: “Como é o estilo do líder da área que está contratando?” e ” Se você pudesse destacar duas competências essenciais para esse cargo, quais seriam?”.
Também vale pedir mais informações sobre os detalhes do dia a dia do trabalho. “Pergunte por exemplos de projetos com os quais você provavelmente irá trabalhar se for aprovado”, diz Amanda. “Isso dará uma visão mais palpável das demandas que precisará cumprir na rotina”.
Outra questão sugerida pela gerente de recrutamento é mais aberta: “Como posso ajudar a esclarecer que me contratar seria uma boa opção?”. “Isso antecipa possíveis questionamentos que podem ter surgido para o recrutador a conversa e permite que o próprio candidato as responda, tendo a oportunidade de fortalecer os seus pontos fortes”, explica ela.
▶ O outro lado: as perguntas inadequadas (ou precipitadas)
Autenticidade e transparência são essenciais em qualquer processo seletivo — e isso precisa partir dos dois lados —, mas é importante evitar perguntas que soem muito apressadas ou representem um “atropelo” nas etapas do recrutamento.
Como o processo seletivo é uma jornada, é preciso respeitar o seu ritmo. Questionar a remuneração da vaga logo nas primeiras entrevistas, por exemplo, pode transmitir ansiedade e até prejudicar o seu espaço para negociar. “Muitas empresas reavaliam a remuneração de acordo com o perfil, então antecipar o tema e decidir abandonar o processo de acordo com a resposta é um erro”, diz Rafael.
Na visão de Amanda, a precipitação é o maior risco que um candidato pode correr ao interpelar o recrutador — sobretudo quando o tema é salário. “Falar sobre isso logo de cara pode deixar a impressão de que o dinheiro é a única motivação do candidato.
Também não é uma boa ideia fazer perguntas pessoais ao recrutador, nem quando o assunto é ligado ao trabalho. Questionamentos como “Você gosta de trabalhar aqui?”, por exemplo, podem soar pouco profissionais ou até invasivos, diz Carolina.
Por fim, também vale lembrar que o momento da entrevista não é adequado para tirar dúvidas muito básicas sobre a empresa. Questionar o recrutador sobre o tipo de produto vendido ou serviço prestado pela companhia, por exemplo, pode transmitir falta de preparo.
Em tempo: apesar de todos os cuidados, a espontaneidade é obviamente bem-vinda. “Sempre que feita de forma educada e coerente com o assunto tratado na entrevista, não existe pergunta errada”, opina Guilherme. “Todo questionamento do candidato deve ser levado em consideração e, se não for nenhuma informação confidencial, deve ser respondido”.
▶ Planeje a conversa, mas sem sacrificar a naturalidade
Preparar as perguntas que você fará — e também as respostas que dará — ao recrutador exige um trabalho prévio, que pode incluir anotações no papel e até ensaios na frente do espelho. Mas todo esse processo de planejamento não pode resultar em artificialidade.
Para Guilherme, a saída é encarar a entrevista como uma conversa estruturada: você precisa chegar ao encontro com uma ideia clara das mensagens-chave que deseja transmitir, o que inclui a cronologia da sua carreira e os principais resultados e aprendizados acumulados até agora.
Para incorporar essa estrutura de forma natural ao seu discurso, é importante estudar o máximo possível a sua própria trajetória. Tanto para dar respostas interessantes quanto para fazer boas perguntas, o candidato precisa investir em autoconhecimento.
Quanto mais você conhecer os seus próprios valores e objetivos, maior a chance de conduzir uma conversa honesta, fluida e capaz de esclarecer se aquela contratação faz sentido — ou não — para os dois lados. A sinceridade e a espontaneidade são importantes também a longo prazo. Se você foi contratado apenas porque desempenhou um bom “papel” na entrevista, as suas chances de sucesso cairão consideravelmente no futuro.
“Não adianta conquistar artificialmente o empregador e depois lamentar uma posição que não deu certo”, diz Rafael. “A troca deve ser natural porque o objetivo é descobrir se existe aderência de fato entre o profissional e a oportunidade”.
Fonte: https://www.linkedin.com/pulse/brilhe-na-entrevista-perguntas-que-voc%25C3%25AA-pode-e-deve-fazer-gasparini/?trackingId=hIDDyBpWQuOwUu7ipeFpuQ%3D%3D