A ideia de ter alguns dias de atuação em casa e alguns dias no escritório parece ser bem aceita e até desejada por muitos profissionais, como mostram alguns dados das nossas próprias pesquisas
Se o desafio de 2020 para os gestores foi entender como manter a produtividade e engajamento dos colaboradores a distância, o de 2021 (e dos próximos anos) passa a ser como administrar uma equipe nos modelos híbrido e remoto de trabalho, que vêm ganhando cada vez mais espaço no mercado. A ideia de ter alguns dias de atuação em casa e alguns dias no escritório parece ser bem aceita e até desejada por muitos profissionais, como mostram alguns dados das nossas próprias pesquisas.
Em uma das mais recentes, nós perguntamos aos colaboradores como eles estavam se sentindo frente à uma possível retomada do trabalho presencial. Tivemos mais de 7 mil respondentes, e 80% deles afirmaram que estão gostando muito do home office. Uma parcela ainda maior, de 85%, também destacou que se sente mais produtiva nesse novo formato de trabalho.
Em contrapartida, essa busca contínua por produtividade pode acabar gerando mais ansiedade e estresse, que podem, inclusive, acarretar em um aumento de doenças como o burnout. Esse aumento da carga de trabalho, aliado ao contexto em que estamos vivendo, já estão causando grandes danos para a saúde mental. É justamente por conta desse cenário que precisamos nos preocupar com o bem-estar dos nossos colaboradores. Se não houver nenhum tipo de cuidado para lidar com essas questões, não importa qual modelo você escolha para a sua empresa, porque ele não vai ser sustentável. Você pode optar por voltar ao trabalho presencial, decretar um formato híbrido ou manter o home-office, mas é necessário entender que cada pessoa da equipe é um ser integral.
Isso significa pensar em cada colaborador de forma individual, entender suas particularidades e necessidades. Não adianta, por exemplo, cuidar apenas do bem-estar físico e não pensar no aspecto financeiro. Acredito que existam cinco pilares importantes para manter em mente ao pensar neste novo cenário:
A nossa necessidade de previsibilidade está diretamente ligada à sensação de segurança. Por isso, o líder precisa ter alguns rituais de gestão que ajudem a impactar nessa questão, como feedbacks constantes, alinhamentos frequentes de prioridades e reuniões com o time onde cada um possa falar sobre o que está trabalhando e onde precisa de apoio. Criar um canal de comunicação único para repassar informações mais estratégicas da organização pode ser uma excelente ação visando a eliminação da dúvida sobre a veracidade das informações recebidas internamente. Todas essas ações trazem uma sensação de entendimento sobre o que está acontecendo na empresa, o que já está sendo feito e quais são os próximos passos. Isso é ainda mais importante a distância, já que fica mais difícil acompanhar o trabalho dos colegas e ter uma noção como um todo da organização.
Além da previsibilidade, nós também precisamos ter a sensação (e sentir na prática) de que aquilo que é importante para nós está ecoando para o outro. Isso significa que precisamos garantir que nossas necessidades sejam realmente vistas e validadas pelo outro. Na prática, o líder precisa levar em consideração o que realmente importa para o colaborador, seja através de ferramentas que mapeiam o que a equipe está pensando e sentindo, seja com momentos para que eles tenham voz e vez na organização. É importante ver o seu time, mesmo que virtualmente, e ter momentos de interação para que as pessoas sejam vistas e ouvidas sem um interlocutor.
Enquanto seres humanos, nós precisamos, por essência, nos sentir conectados e vinculados a algo. Essa afirmação é particularmente importante quando falamos de engajamento, porque é preciso que as pessoas estejam conectadas para se sentirem envolvidas. Por isso o papel do líder é tão importante na criação de vínculos. Rituais como feedbacks 1:1, happy hours ou squads em que as pessoas possam criar projetos são fundamentais para gerar um senso de humanização, para que a gente deixe de estar naquela sensação de frieza da tela do computador e fomente o calor do relacionamento. No modelo híbrido, é preciso pensar nas pessoas que não terão a oportunidade de estarem juntas fisicamente por morarem em outra cidade, por exemplo. Então é interessante traçar estratégias também para quem segue a distância.
A pandemia foi a gota d’água para diversas coisas que estavam latentes, como a nossa inabilidade para lidar com sentimentos, pressões e incertezas desse mundo que estamos vivendo. Se antes o conceito VUCA (do inglês, volátil, incerto, complexo e ambíguo) era o que ditava os negócios, hoje já estamos na era BANI (frágil, ansiosa, não-linear e incompreensível). Em resumo, estamos vivendo uma realidade onde tudo pode ruir a qualquer momento, repleto de incertezas, sem possibilidades de previsões concretas e onde nossa capacidade de entender o mundo está sobrecarregada e desestabilizada por conta do excesso de informações com diferentes pontos de vista (alguns pautados em meras opiniões e outros em argumentos científicos). Por isso é preciso monitorar com frequência a sua equipe, para entender o que ela está pensando e sentindo. Com o trabalho remoto, ficou impossível ter aquele momento de descontração do café ou a noção visível sobre o estado emocional dos colaboradores. Com a escuta contínua, mesmo a distância, é possível mostrar que as pessoas realmente importam para a organização, diminuir a ansiedade, aumentar a previsibilidade e atuar de forma muito mais rápida e assertiva sobre o que precisa ser melhorado na empresa.
Por fim, é necessário que as pessoas se sintam verdadeiramente valorizadas dentro da empresa. Organizações com maior clareza de cultura e propósito, que tenham uma comunicação clara e que cuidem da saúde e bem-estar dos colaboradores tendem a ter índices maiores de engajamento e produtividade. Também é importante valorizar a diversidade e inclusão, porque isso traz segurança de que a pessoa será respeitada e ouvida independente do quão singular ela seja.
A era data driven
O nosso “novo normal” está mostrando o quanto as empresas precisam se reestruturar, e a tecnologia já está sendo uma importante aliada nesse processo. Com o trabalho remoto, cada vez mais a gestão vai precisar de dados para entender o que está se passando com suas equipes. As organizações que já são data driven e percebem que também precisam de informações e métricas sobre as pessoas (o que nós chamamos de People Analytics) estão saindo na frente nesse momento. Mas para isso acontecer, mais do que o apoio dos líderes, a empresa precisa estar estruturada e pronta para mudar ou ajustar sua cultura organizacional.
Olhar para todo esse processo, que exigiu de todos tamanho desenvolvimento, é um grande exercício de amadurecimento. O conhecimento que foi construído no decorrer deste caminho permitirá aos líderes uma condição diferenciada em termos de gestão de negócio, flexibilidade cognitiva, inteligência emocional e tomada de decisão em meio a crise. Isso não tem preço.
Por Renato Navas, Head de People Science na Pulses
Fonte: https://www.mundorh.com.br/os-5-pilares-da-gestao-de-pessoas-no-trabalho-hibrido/